Os ambientes híbridos cloud ou multicloud são estratégias consolidadas, que chegaram para ficar, certo? Sem dúvida, mas está surgindo uma história maior, que questiona a própria natureza do uso de múltiplas plataformas, nuvem ou não nuvem. À medida que as empresas começam a avaliar a adoção de várias plataformas, chegam a conclusões óbvias:
Às vezes, a variedade de fornecedores vale a pena. O ambiente multicloud é popular por vários motivos. Plataformas diferentes têm diferentes pontos fortes. Ao adotar várias plataformas na nuvem, as organizações têm a liberdade de escolha e de otimização do fornecimento específico para seus aplicativos. Isso pode atender a uma variedade de demandas de aplicativos ou de usuários finais, ao passo que forçar com que todas as cargas de trabalho caibam em uma única plataforma pode ser negativo, no que se refere à regulamentação, custo, desempenho ou experiência do usuário. Em segundo lugar, o uso de múltiplas plataformas reforça o conceito de resiliência aumentada, ao não colocar todos os ovos em uma única cesta.
Por outro lado, uma parceria estratégica cria mais valor. Algumas empresas acreditam que manter múltiplas plataformas pode ser caro, seja para um portfólio de cargas de trabalho ou mesmo para um único aplicativo. Com isso, decidem se concentrar em uma única parceria estratégica. A produtividade otimizada, ferramentas nativas de gerenciamento unificadas, uma única localização dos dados, redundância reduzida e capacidade de alavancar serviços exclusivos e contínuos superam os benefícios da liberdade de escolha. Uma parceria estratégica também pode reduzir o risco que muita complexidade pode introduzir.
Fatores motivadores para a adoção de multicloud
Para elaborar a pesquisa “Analytics Global Business Technographics Infrastructure Survey, 2018”, a Forrester perguntou a tomadores de decisão norte-americanos e europeus da área de tecnologia de infraestrutura por que eles utilizam várias plataformas em nuvem, as três respostas mais comuns se alinham com o conceito de rightsourcing[1] estratégico: melhorar o desempenho de aplicativos sensíveis à latência (31%); porque aplicativos diferentes requerem serviços de nuvem diferentes (28%); e para recuperação de desastres (26%). As empresas mais experientes em nuvem estão familiarizadas com esses princípios de eficiência. No entanto, por meio de consultas e briefings, a Forrester descobriu outros motivos comuns pelos quais as empresas recorrem ao multicloud:
Vantagens únicas externas. Algumas empresas aproveitam de forma relutante nuvens fora de sua plataforma de nuvem principal, devido a vantagens únicas que não conseguem encontrar em suas plataformas principais.
Descontos atraentes. A Microsoft há muito tempo usa descontos no Office 365 e Skype, como uma maneira de incentivar a escolha da Azure como plataforma primária. A Microsoft está entre os líderes no mercado de plataformas de nuvem pública, mas muitas empresas observam que seu programa de descontos os atraiu para a Azure e se encaminhou para uma estratégia de multicloud. O Google Cloud também oferece descontos no Google Ads, como forma de atrair mais cargas de trabalho corporativas para sua plataforma.
Usuários. Em ambientes de TI altamente distribuídos, desenvolvedores e usuários de negócios costumam tomar suas próprias decisões de fornecimento. Em muitas situações, a preferência por si só leva a uma estratégia multicloud. Às vezes, um grupo assume a coordenação de alguns ou todos os ambientes, para fornecer mais coesão. Grupos menos distribuídos podem selecionar várias nuvens para satisfazer as demandas dos usuários que eles atendem e ganhar credibilidade entre os demais grupos de negócios, por fornecer as funcionalidades desejadas.
Clientes. O cliente B2C comum não se importa muito com o local em que você hospeda seu site ou com um produto SaaS gratuito, mas as empresas B2B que atendem a outros negócios por meio de plataformas digitais ou de uma solução SaaS descobrem que a terceirização pode solidificar ou destruir uma parceria de negócios.
Parceiros que escolhem por você. Assim como os clientes B2B impõem suas escolhas, parceiros poderosos podem insistir que você se conecte e trabalhe com eles em uma plataforma em nuvem específica, que pode diferir da sua plataforma em nuvem principal. A solução mais econômica nesse caso é tipicamente ramificar-se para a plataforma preferida, em vez de trocar de provedor primário, criando um cenário multicloud, independentemente da intenção original.
Diversificação de riscos (em teoria). Agentes reguladores e auditores internos buscam mitigar o risco de ficar na mão de um único fornecedor, com receio de aumento de custos ou falha completa. Normalmente, o medo não é por causa de uma interrupção de curto prazo, mas de um fato relevante, que coloca um fornecedor fora do negócio ou altera drasticamente seus preços.
Reforçar o poder de negociação (também em teoria). Empresas com excesso de confiança acreditam que ter presença e experiência em duas plataformas as torna mais poderosas na negociação de contratos. Infelizmente, a maioria das empresas não gasta o suficiente em uma determinada plataforma para conseguir descontos favoráveis. A divisão entre várias plataformas diminui ainda mais o tamanho dos gastos.
Tipos de multicloud
Segundo a Forrester, antes de explorar os problemas e as soluções para as várias formas de multicloud, primeiro é importante esclarecer suas variações específicas:
Algumas organizações focam suas estratégias multicloud em função da portabilidade
As opções descritas acima descrevem as decisões de infraestrutura para hospedar aplicativos, entretanto para alguns, a adoção de multicloud não é uma decisão para hoje, mas sim uma escolha a ser feita mais tarde. Eles desejam ter flexibilidade na escolha do fornecedor no futuro.
Se as circunstâncias mudarem, eles aprenderão mais sobre a plataforma ou, se os recursos da plataforma melhorarem radicalmente, eles terão a portabilidade de mover seus aplicativos para outras plataformas na nuvem?
Essa pergunta simples tem implicações gerais. As plataformas em nuvem não são as mesmas, e a portabilidade entre elas sempre exigirá um trabalho significativo. O uso de aplicativos ou serviços para desenvolvedores exclusivos do provedor dificulta ainda mais a movimentação. As empresas enfrentam um grande dilema para avaliar se a perda de valor e velocidade no mercado vale essa portabilidade. Mesmo aqueles que escolhem a portabilidade identificam áreas para exceções nas quais desejam aceitar a dependência de fornecedor ou plataforma, tudo em nome do valor e da velocidade.
Quando a multicloud não é a resposta
A multicloud, de alguma forma, é a solução óbvia para a maioria das empresas, mas há exceções. Quando eles avaliam a economia, a logística ou as integrações com parceiros, a multicloud simplesmente não faz sentido em algumas situações.
Em alguns casos essa decisão tem que ser avaliada em um nível mais macro, desconsiderando o valor das eficiências em nível micro do fornecimento para as aplicações. Algumas empresas intencionalmente limitam os tipos de plataforma, aceitando altos níveis de dependência, em nome da simplicidade. Para outras empresas, a eficiência em nível micro está ausente. Quando eles examinam a logística e as especificidades de um aplicativo, o ecossistema ou relacionamento dos aplicativos, o ambiente multicloud representa aumento de custos. Se você acha que suas opções mutlicloud estão limitadas:
Determine se isso é opinião ou fato. A teoria é ótima, mas se os números não baterem, o esforço é inútil. Antes de mergulhar muito na decisão sobre sua abordagem multicloud ou de plataforma única, faça testes para determinar se os investimentos em desempenho ou recursos são favoráveis nesse modelo.
Defina o escopo da restrições. A maioria das restrições não é total. A decisão se aplica a uma única demanda de hospedagem de aplicativo, feita por uma equipe ou a aplicativos que se conectam a um determinado conjunto de dados? Ou representa uma necessidade de toda a empresa? Às vezes é fácil discernir; por exemplo, quando seus usuários do .NET desejam usar o Azure e uma outra equipe já está usando intensamente a AWS e seus diversos serviços de aplicativos e para desenvolvedores. É difícil definir, especialmente se houver implicações de custo, latência ou conformidade em uma abordagem de multicloud.
Avalie as limitações para ver se você pode superar as barreiras. Criatividade e resolução de problemas são fundamentais na era da nuvem. Se você estiver enfrentando um problema muito complexo com a estratégia multicloud desejada, examine se esses problemas são realmente barreiras ou simplesmente obstáculos que exigem flexibilidade.
A multicloud pode não ser viável
A criação de dois ambientes de nuvem isolados em duas ou mais plataformas de nuvem apresenta poucas dificuldades, além do aumento da sobrecarga com mais fornecedores e da exigência de mais habilidades. Entretanto, como esses ambientes se conectam a um conjunto de dados, um aplicativo ou um ecossistema de aplicativos dividido nessas plataformas, podem surgir desafios. Às vezes, esses desafios inviabilizam a multicloud:
Custos elevados com a rede. Cada um dos provedores de nuvem tem maneiras diferentes de cobrar pelo uso da rede. Muitas empresas não percebem a quantidade de tráfego que se move entre as diferentes camadas de um aplicativo e ficaram surpresas com o fato dos custos de rede serem mais altos do que qualquer outro item da fatura.
Latência e largura de banda problemáticas. Os serviços e dados de aplicativos não são mais separados por metros, mas possivelmente por milhares de quilômetros. Os tempos de comunicação podem crescer em ordens de magnitude e tornar as experiências dos aplicativos muito lentas.
Diferentes tipos de ferramentas. Os provedores de nuvem pública permitem que os clientes usem seus próprios serviços de rede e segurança em plataformas de computação em nuvem, mas isso tem um custo. Os provedores oferecem versões gratuitas desses serviços, na esperança de que os clientes escolham uma versão gratuita e a introduzam no aplicativo, como chamadas de API proprietárias. Escrever código para alavancar um serviço em nuvem específico dificultará o desenvolvimento ou a movimentação de um aplicativo para outra plataforma de nuvem pública.
Dobrar o trabalho (ou mais) com metade da produtividade. Normalmente as organizações buscam uma cadeia de suprimentos enxuta para otimizar processos, eliminando o desperdício e atividades sem valor agregado, como manutenção de fornecedores. Da mesma forma, as empresas que configuram novas instâncias em novas plataformas repetirão as mesmas atividades, como gerenciamento de endereços IP, perfis de segurança e gerenciamento de contas, com pouco valor agregado para a continuidade ou redundância dos negócios.
Recuperação de desastres com custo acessível. As empresas podem aproveitar vários data centers na nuvem, zonas de disponibilidade ou, em teoria, várias plataformas em nuvem para fornecer continuidade de negócios para todos ou parte de seus aplicativos. Na prática, atingir processamento active-active[2] (ativo-ativo), mesmo nas zonas ou regiões de disponibilidade de um único provedor de nuvem, é muito caro para a maioria das cargas de trabalho, ainda mais para criar versões e mantê-las em várias plataformas na nuvem. Embora a teoria permita uma variedade de abordagens de recuperação de desastres, o custo e o tempo criam limitações reais, que tornam um plano de recuperação de desastres menos tangível se estiver pulverizado em várias nuvens.
Conclusão
Muitas perguntas surgem quando avaliamos uma estratégia multicloud. Seja específico sobre seu plano e metas, antes de tomar decisões sobre nuvem pública ou privada e algoritmos complexos de fornecimento, para determinar o destino do seu portfólio de aplicativos.
Algumas das perguntas importantes a serem respondidas quando planejar sua estratégia:
- Qual é o objetivo maior da sua estratégia de nuvem?
- Quais eficiências específicas, no que se refere à utilização de processos e recursos, você procura para sua empresa e por que elas são importantes?
- O esforço vale a pena?
- Estamos exagerando na arquitetura da nossa estratégia multicloud?
- É este o momento para mudanças?
Tome suas decisões com maior confiança. Entre em contato conosco.
[1] Rightsourcing se refere à prática das empresas em combinar recursos externos (outsourcing) e internos (insourcing) para obter a melhor relação custo x benefício na execução de alguma tarefa. [2] Também chamado de dual active, active-active é um termo usado para descrever uma rede de nós de processamento independentes, em que cada nó tem acesso a um banco de dados replicado, fornecendo acesso a cada nó e uso por um único aplicativo. Em um sistema ativo-ativo, todas as solicitações são balanceadas por carga em toda a capacidade de processamento disponível. Onde ocorre uma falha em um nó, outro nó na rede toma seu lugar.
Fontes:
“How to Simplify Your Hybrid Multicloud Strategy”, Forrester, 2019.
“Top 10 Facts Every Tech Leader Should Know About Hybrid Cloud”, Forrester, 2018.
“Analytics Global Business Technographics Infrastructure Survey, 2018”, Forrester, 2018.